Os últimos anos trouxeram-nos novos hábitos, quanto à ocupação do tempo. As empresas da tecnologia jogaram forte no entretenimento. São os jogos dos smartphones, as séries da Netflix e de outras plataformas de streaming, as redes sociais, as aplicações de comunicação e mesmo a navegação aleatória ou recreativa na internet.
Como isso, julgo que se vão perdendo hábitos de leitura dos livros, sobretudo dos livros físicos. Dos que contam histórias e nos estimulam a mente. Como se sabe, as referidas tecnologias usam técnicas subversivas de viciação, através de estímulos psicológicos ao consumo rápido, a que nem as séries escapam. Tudo é criteriosamente montado para que o consumidor fique preso a écrans, seja de telemóveis, tablets ou aparelhos de televisão. A questão que se coloca é, assim, a de saber que tipo de transformações isso pode trazer aos humanos. Não sou especialista na matéria, mas tenho boas razões para suspeitar que a literatura acrescenta um valor inestimável à condição humana, permitindo aos autores criarem novas atmosferas, novas realidades, que são entretecidas por construções gramaticais que enriquecem a língua, e cujas vozes arquitetam os seus universos narrativos. Da parte dos leitores, a riqueza da literatura advém da possibilidade de gerar abstração, tempo suficiente para a reflexão, permitindo a formação de um pensamento crítico mais elaborado e fundamental à autodeterminação e à liberdade do ser humano. A sujeição massiva e aditiva a produtos tecnológicos estandardizados ou sujeitos ao impulso do momento fazem uma sociedade mais padronizada, mais permeável ao consumismo acrítico e mesmo a políticas e políticos demagógicos e populistas. O problema tende a tornar-se mais agudo nas novas gerações, que já nascem e crescem neste novo paradigma. É assim importante que os sistemas educativos das democracias promovam a literacia literária, que cada família não a esqueça na formação das suas crianças, e que cada um encontre a dose certa no consumo das várias ofertas de entretenimento. E que rejeite ser apenas mais uma ovelha no rebanho. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (19/12/2021) O direito ao desligamento é algo que está cada mais na ordem do dia, sobretudo quando chegou a era do teletrabalho.
Uma vida saudável deve permitir que todos trabalhadores, profissionais liberais e mesmo chefias de topo e gestores, deixem para trás essa ideia socialmente bem vista de que, quem está sempre ligado ao trabalho, é mais capaz e tem mais sucesso. Pode até ter, mas só no curto prazo, antes de descobrir que se tornou num escravo de si mesmo, ou dos outros. É certo que a legislação (artigo 169.º do Código do Trabalho) prevê limites do período normal de trabalho à distância em condições similares ao do trabalho presencial. Mas tantas vezes que isso não acontece. Por causa de imposições ou objetivos impostos aos trabalhadores no caso do trabalho subordinado, por causa das consultas telefónicas, emails e reuniões fora de horas com clientes no caso de profissionais liberais, ou mesmo quando alguém se tornou, por imposição ou dependência, num workaholic. A legislação que, na minha opinião, não deve ser de fação ou ideológica, deve garantir o equilíbrio necessário na garantia desse direito, sem entrar em radicalismos como os que por aí se apregoam, de punir uma qualquer entidade patronal por contactar um trabalhador fora do horário de trabalho. Sim, se for um abuso, uma recorrência; não se for uma necessidade, uma exceção. É claro que uma boa educação cívica, nomeadamente na escola, ajudará a que, no futuro, tenhamos cidadãos – trabalhadores e empregadores – com maior consciência crítica, capazes de saber alcançar uma desejável autorregulação neste tema. Pois, na busca da realização pessoal, há que ter tempo para nós próprios, para a família e os amigos, para o desporto, hobbies e viagens, para a leitura (saudável hábito em extinção), para o nosso despertar e crescimento interior, ao nível espiritual e do conhecimento. O trabalho não pode dar o pão com uma mão e, com a outra, tirar a emoção e viver. No meio, julgo, estará a virtude. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (19/11/2021) Este outono está marcado pelas eleições autárquicas em todo o país. Nos 308 concelhos do continente e das ilhas, os portugueses são chamados a eleger aqueles que cuidarão de governar os nossos municípios e freguesias. E também os que vão exercer o direito democrático de oposição. Uns renovarão os seus mandatos, outros chegarão pela primeira vez.
Tudo isto é do conhecimento geral, sendo a regra que cada denominado “ciclo autárquico” se conclua e se renove ao fim de cada período de 4 anos. Assim, quer candidatos quer eleitores tendem a deter a sua atenção nos compromissos imediatos, avaliando os que foram ou não cumpridos no quadriénio anterior, e, claro, os novos, os que surgem nos manifestos eleitorais para o quadriénio que se segue. Todavia, tenho para mim que os políticos mais competentes, aqueles que realmente deixam uma marca indelével na sua passagem pela missão pública e são recordados na posteridade, são os que conseguem ver para além dos quatro anos seguintes. Os que projetam os territórios, em obras materiais mas sobretudo imateriais, para um futuro bem mais distante, para as próximas gerações. Deste modo, faço votos para que candidatos e eleitos sejam capazes integrar nos seus programas e na sua execução políticas concretas de elevado impacto geracional. Seja ao nível da transição energética e digital, ou que tornem os territórios mais criativos e ambientalmente sustentáveis, ou capazes de contribuírem para a fixação de jovens e para a atração de novos residentes, com empregos mais qualificados e com mais elevados padrões de remuneração, qualidade de vida e forte coesão e inclusão social. Com sábio e humanizado aproveitamento da inteligência artificial. Mas também potenciadores de equilíbrio entre a igualdade e o mérito nas oportunidades, que se mostrem culturalmente vibrantes e desafiantes e competentes no domínio da educação. É o que desejo para este novo ciclo autárquico, no nosso país. Mas igualmente, e sobretudo, no meu concelho de Penafiel. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (24/09/2021) No meio do mês das férias, tomamos conhecimento que a máscara finalmente vai cair. Será em meados de setembro que deixaremos de ser obrigados a passear no espaço público com este recente adereço na nossa indumentária.
Na verdade, andando por aí, vê-se que os portugueses rapidamente se adaptaram à dita, como se fosse a uma nova moda, e foram cumprindo, nos últimos tempos, com esta regra sanitária. Algo que não se viu noutros países do centro da Europa. Por isso, não deixará de ser curioso verificar como se fará o desapego ou desligamento desse hábito. Se manteremos a rotina de pegar na máscara de manhã, por ato mecânico ou por o medo de contaminação se ter instalado no subconsciente coletivo. Até porque as notícias sobre as capacidades de infeção da variante delta do vírus não são animadoras por aí além, e ninguém foi capaz de demonstrar ainda ser possível atingir-se uma efetiva e desejada imunidade de grupo. Mas, no meu ver, a queda da máscara é um bom sinal. Com as distâncias devidas, é certo, mas simbólico como a queda do Muro de Berlim. É que, atrás da máscara esconde-se um tempo impensável em que vimos coartadas as nossas liberdades individuais: a liberdade de reunião; a liberdade de utilização do espaço público; a liberdade de comer onde se quer; de se estar com quem se quer. Mas também a liberdade de mostrarmos os afetos, através de beijos, sorrisos e abraços, de estarmos com os nossos entes mais queridos, em especial com os mais velhos. De viajarmos. Em suma, de celebramos todos os dias o dom da vida. Por isso: que caia a máscara! Mas que atrás da máscara que cai, regressem os abraços. Mas de vez. Bem sei que o regresso dos abraços não se decreta por lei. Há ainda que aguardar que a ciência nos continue a surpreender, encontrando soluções que mais rapidamente sustenham as constantes mutações do vírus. Mas podermos voltar a circular sem máscara, não deixa de ser um enorme ato simbólico do regresso da esperança em voltarmos a ser livres. De voltarmos ao tempo em que éramos felizes sem saber. Que ela caia! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (28/08/2021) No passado dia 26 de julho, celebrou-se o Dia dos Avós. Desta vez, infelizmente sem festa e sem os afetos experimentados no convívio dos milhares de avós, filhos e netos, como acontecia no Parque da Cidade de Penafiel.
Hoje, o dia dos avós celebra-se em Portugal e em outros países, mas poucos saberão por esse mundo fora que a ideia nasceu em Penafiel, no final do século passado, brotando do fervoroso coração da D. Ana Elisa do Couto, carinhosa avó da nossa terra. Na minha missão pública, tive a oportunidade de reunir e encontrar tantas vezes com a D. Ana Elisa e de me deixar contagiar por aquele espírito inquieto e determinado, animando-a na sua jornada. No início, poucos a levavam a sério, depois a sua ação tornou-se num movimento que nunca mais parou, até alcançar os vários areópagos nacionais e internacionais. Nos tempos que correm, e pelo segundo ano consecutivo, não pudemos celebrar os avós. É mais um dano colateral da pandemia. Um triste dano que a todos atinge. Pela falta dos afetos, mas sobretudo pelo simbolismo que representa. O vírus que nos rouba as memórias do tempo em que vivemos rouba-nos também esses afetos, esses momentos mágicos, que são a essência da nossa condição de humanos. Ou seja, não estamos só afastados dos avós no dia dos avós, mas durante dias, semanas e meses a fio. Talvez anos. Ninguém sabe o preço que esse afastamento sanitário coercivo vai custar às novas gerações, sobretudo quando já não tiverem avós com quem gravar memórias e afetos. Mas será certamente um preço muito alto. E quantos deles partem tão desgostosos, com a distância do último abraço, do último beijo de um neto? Urge voltar ao convívio! Urge voltar ao tempo em que os avós abracem e beijem os netos e os netos os avós! Voltar aos afetos que dão todo o sentido à existência! Por tudo isso, hoje, mais do que nunca, se percebe que tinha a D. Ana Elisa do Couto, na sua luta, que ganhou antes de partir. E a Vós, Avós, fica a nossa imensa gratidão pelo papel tão importante na vida coletiva e de cada um de nós! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (30/07/2021) Há dias, cruzei-me com uma entrevista de Nicholas Carr, um dos autores mais críticos sobre o efeito da Internet na nossa mente, que afirmava ao El País que, quando nos ligamos à rede «trocamos profundidade por amplitude, contemplação por estímulo», criando desequilíbrios e vieses nas informações que processamos, com repercussões individuais e coletivas significativas.
Ao mesmo tempo, começam a ouvir-se, cada vez mais, as vozes dos chamados renegados de Silicon Valley, como Jaron Larnier – que foi guru da realidade virtual e assessor da Google e Microsoft -, a afirmar que o Facebook foi pensado «para promover o seu conteúdo, conduzir os utilizadores à sua informação e garantir que eles passem o máximo de tempo possível na plataforma. Esse é o seu modelo de negócios: vender a atenção dos utilizadores e os seus dados para empresas de publicidade e de propaganda. O Facebook é uma máquina de manipulação. E o Twitter, WhatsApp, Instagram ou YouTube funcionam com o mesmo princípio». Ou do jovem filósofo Tristan Harris, que assevera que «Eles sequestraram as nossas mentes. As nossas decisões não são livres, são marcadas pelos seus interesses, que não são os nossos. Eles impõem a forma como interagimos, condicionam a nossa capacidade de conversar e colocam em risco a democracia… Quem? Os engenheiros do Google, Facebook e Apple». Ou seja, cada vez mais as redes sociais privilegiam a quantidade e velocidade de «transmissão» em detrimento da qualidade, aproveitando os princípios da eficiência do cérebro. O modo como navegamos na web incentiva o pensamento superficial e não estimula o pensamento conceitual. Promove a emoção instantânea sobre a razão, o pensamento do grupo sobre a reflexão pessoal. Porém, não é disso que o nosso cérebro necessita para transformar em conhecimento, estimulando o pensamento crítico e profundo. O receio de muitos é que a humanidade esteja crescentemente ao serviço dos gigantes da tecnologia, em vez de termos a tecnologia ao serviço da humanidade. O que alimenta notícias falsas, desinformação barata, manipulação subtil e falta de privacidade. E disto urge tomar urgente consciência: os mais jovens, mais vulneráveis, porque ainda não terminaram de desenvolver seu pensamento crítico e as ferramentas lógicas para discernir; e os adultos, para que usem as tecnologias ao serviço da construção do conhecimento e reduzam o risco de manipulação. Antes que seja tarde de mais! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (07/06/2021) A celebração da democracia conquistada em Portugal, há 47 anos, não pode passar de um ato reconduzido à distância de discursos dos nossos representantes.
Neste momento, cerca de metade da nossa população nasceu depois do 25 de abril de 1974. Ou seja, a partir de agora, cada vez menos portugueses terão memória direta do antes e do depois. A esta razão somam-se duas outras de capital importância para lembrarmos vincarmos a importância do acontecimento e de sabermos explicá-la a quem nasceu fora do jugo da ditadura. A primeira, é o facto de vivermos no meio de uma pandemia, durante a qual foram decretados vários estados de emergência e, consequentemente, várias restrições à nossa liberdade. Sobretudo à liberdade de movimentos e de reunião física. Foi por um bem maior, mas basta imaginar que assim haveríamos de viver anos a fio, por imposição de um líder autoritário, e que a isso se somava a privação da liberdade de opinião e um atraso estrutural do país relativamente ao mundo ocidental, para ficarmos já com uma ideia. A segunda relaciona-se com as modernas tentações dos extremismos. Até 1974, depois de um tempo ditatorial e nacionalista exacerbado, Portugal viveu mais ou menos imune a esse mal, com as franjas mais radicais e demagógicas, à esquerda e à direita, pouco expressivas. Porém, começa a não ser assim. Cada vez mais gente que não viveu o antes do 25 de abril, ou, que se o viveu, gostaria de restaurar algo parecido com essa época, aceita, consciente ou inconscientemente, enveredar por esses caminhos. É certo que a democracia, a nossa democracia, tal como qualquer construção humana, não é um regime perfeito. E que ainda deixa gente excluída, frustrada e não realizada enquanto pessoa humana. Mas como disse um dia Churchill, ainda não se inventou melhor sistema. Assim, ao contrário do que alguns defendem, a hora não é de criarmos novos regimes que rompem o legado desse Abril construído pelos mais sensatos pais da pátria, mas de aprofundarmos e melhorarmos a nossa democracia, que é um património nacional e coletivo de raro valor para todos nós. Basta olhar para os países onde isso não acontece. Um espaço onde – como disse há dias Marcelo Rebelo de Sousa no provavelmente melhor e mais aglutinador discurso de sempre – caibam todos os portugueses, onde se concilie a memória coletiva intergeracional e combata os sectarismos e a tribalização crescente na sociedade portuguesa e nas democracias ocidentais. Por tudo isto, e porque, apesar das suas imperfeições, é o único regime que tem legitimidade e cujos governos não podem inspirar medo nos governados. Porque estão sujeito às leis e é baseado nos direitos dos cidadãos, nomeadamente nas suas liberdades civis. Esse é o milagre da legitimidade democrática, que nunca convém perder de vista. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (07/05/2021) Há dias, passou-me pelo rodapé de um momento de leitura a seguinte frase de Erich Fromm, um filósofo e psicanalista do século passado: “O perigo do passado era que os homens se tornassem escravos. O perigo do futuro é que os homens se tornem autómatos”.
Vem isto a propósito dos tempos em que vivemos. Entre um passado nem sempre auspicioso, mas do qual, de repente, sentimos nostalgia, um presente titubeante e um futuro incógnito. Vivemos por isso, num entretanto. Esse parêntesis da nossa História coletiva deve fazer-nos parar para pensar. Afinal, quantos lutaram, quantos morreram e sofreram, se tornaram mártires ao longo de séculos para alcançarmos o bem maior da condição humana: a liberdade! Para fugirmos desse perigo que mais temiam os homens do passado: a escravidão. Fosse ela física, intelectual ou simplesmente da escravidão provocada pela miséria, pela pobreza ou pela falta de acesso à saúde. Mas o futuro que nos espera não deixa de configurar a dita incógnita. Por vezes, inquietante. No caldeirão em que a Humanidade ferve em lume brando, aquecem os novos extremismos, modelam-se as mentes pela leve espuma das redes sociais, tolhe-nos o medo provocado por um parasita invisível. É um tempo novo da nossa Civilização, mas que, por incrível paradoxo, afinal já o vivemos. Quantas vezes o homem teve se enfrentar fanatismos? Quantas vezes teve de lutar contra os manipuladores das mentes dos mais simples? E quantas outras vezes foi o Homem tolhido pelas forças invisíveis e imprevisíveis da Natureza, ou das epidemias que ceifaram legiões de seres humanos, ou teve morrer pela liberdade?! Afinal, embora mais sofisticado e com maior esperança de vida, não é tão novo assim o que tempo vivemos e o que temos pela frente. O avançar da Civilização surge, deste modo, como uma espécie de espiral em cuja ascensão, no tempo que não pára, os seus círculos nunca se tocam, mas cumprem o mesmo e eterno fado de repetirem os mesmos avanços e fracassos, na busca de uma inalcançável perfeição, felicidade e respeitada convivência. Por isso, aquelas ditaduras não são novas. Ora, se a preocupação de Erich Fromm era que o perigo do futuro fosse que os homens se tornassem autómatos, em vez de escravos, eu pergunto: um autómato não é, afinal, um escravo? O desafio do novo tempo é o de não sermos nem escravos nem autómatos, mas sim o de prosseguirmos como lutadores pela liberdade: contra o medo, a manipulação, a miséria, a segregação, a desesperança. Por isso, neste entretanto que a vida nos concede, em que um ser invisível nos forçou a parar, saibamos todos refletir sobre que futuro queremos para não sermos nem escravos nem autómatos. Antes que seja tarde… Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (11/04/2021) A pandemia acabará e o mundo não. Esta é, pois, boa hora para refletir sobre o nosso futuro coletivo. Há duas questões que nos ecoam:
Em que mundo vamos desembarcar, quando tudo isto passar? Que aprendizagens esta crise deixará? O vírus que abalou o planeta, colocou-o em quarentena, recuou o futuro, adiou planos, compromissos e projetos. Enfrentamos uma das maiores crises da História recente da Humanidade: milhares de vítimas, colapso em inúmeros sistemas de saúde, legiões de desempregados, fronteiras fechadas, crianças sem aulas, trabalho remoto, economia em agonia e indústrias paradas. Neste “novo anormal”, a pandemia remodelou o modo como nos relacionamos com o mundo, com os outros e com nós mesmos. Até mesmo com o nosso corpo. Sim, subitamente, o nosso corpo tornou-se numa ameaça para nós próprios e para os outros. O poder de matar está ao virar da esquina e a arma para combatê-lo é sairmos de cena, isolarmo-nos, mascararmo-nos, afastarmo-nos uns dos outros. De repente, não sabemos como será o amanhã. Felizmente, é de esperança a primeira lição: a ciência esteve à altura dos acontecimentos. Rapidamente, encontrou várias vacinas, e não tardará a encontrar remédios para a doença. Hoje, o problema é como chegará a vacina rapidamente a todos. Mas existem outras cujas respostas ainda desconhecemos, e que integrarão os grandes desafios da nova Humanidade. Abriremos espaço para uma tecnologia mais emocional? A educação vai finalmente reinventar-se? Quais serão as novas habilidades e estratégias das lideranças políticas, empresariais e sociais? Como a análise de metadados pode ajudar o bem da Humanidade? Seremos mais ou menos cautelosos no contacto interpessoal? Vamos adotar de vez a digitalização no trabalho? Saberemos regenerar nossa relação com a natureza? Aprenderemos a combater com eficácia e determinação as causas das alterações climáticas? Os velhos problemas ganharão outras gravidades, com o acentuar das velhas pandemias sociais, como as fake news, a manipulação da informação e dos recursos naturais, dos mais fortes pelos mais fracos, a consolidação de uma certa planura intelectual modelada pelas redes sociais, os radicalismos políticos e religiosos, a manipulação das mentes e decisões através dos algoritmos, os egoísmos atrás de novas fronteiras, os mau usos da genética, da robótica e da inteligência artificial? Na resposta a estas questões estará a linha de salvação ou desgraça da Humanidade. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (15/03/2021) |
Histórico
Agosto 2024
Categorias
Tudo
|