No meio do mês das férias, tomamos conhecimento que a máscara finalmente vai cair. Será em meados de setembro que deixaremos de ser obrigados a passear no espaço público com este recente adereço na nossa indumentária.
Na verdade, andando por aí, vê-se que os portugueses rapidamente se adaptaram à dita, como se fosse a uma nova moda, e foram cumprindo, nos últimos tempos, com esta regra sanitária. Algo que não se viu noutros países do centro da Europa. Por isso, não deixará de ser curioso verificar como se fará o desapego ou desligamento desse hábito. Se manteremos a rotina de pegar na máscara de manhã, por ato mecânico ou por o medo de contaminação se ter instalado no subconsciente coletivo. Até porque as notícias sobre as capacidades de infeção da variante delta do vírus não são animadoras por aí além, e ninguém foi capaz de demonstrar ainda ser possível atingir-se uma efetiva e desejada imunidade de grupo. Mas, no meu ver, a queda da máscara é um bom sinal. Com as distâncias devidas, é certo, mas simbólico como a queda do Muro de Berlim. É que, atrás da máscara esconde-se um tempo impensável em que vimos coartadas as nossas liberdades individuais: a liberdade de reunião; a liberdade de utilização do espaço público; a liberdade de comer onde se quer; de se estar com quem se quer. Mas também a liberdade de mostrarmos os afetos, através de beijos, sorrisos e abraços, de estarmos com os nossos entes mais queridos, em especial com os mais velhos. De viajarmos. Em suma, de celebramos todos os dias o dom da vida. Por isso: que caia a máscara! Mas que atrás da máscara que cai, regressem os abraços. Mas de vez. Bem sei que o regresso dos abraços não se decreta por lei. Há ainda que aguardar que a ciência nos continue a surpreender, encontrando soluções que mais rapidamente sustenham as constantes mutações do vírus. Mas podermos voltar a circular sem máscara, não deixa de ser um enorme ato simbólico do regresso da esperança em voltarmos a ser livres. De voltarmos ao tempo em que éramos felizes sem saber. Que ela caia! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (28/08/2021) No passado dia 26 de julho, celebrou-se o Dia dos Avós. Desta vez, infelizmente sem festa e sem os afetos experimentados no convívio dos milhares de avós, filhos e netos, como acontecia no Parque da Cidade de Penafiel.
Hoje, o dia dos avós celebra-se em Portugal e em outros países, mas poucos saberão por esse mundo fora que a ideia nasceu em Penafiel, no final do século passado, brotando do fervoroso coração da D. Ana Elisa do Couto, carinhosa avó da nossa terra. Na minha missão pública, tive a oportunidade de reunir e encontrar tantas vezes com a D. Ana Elisa e de me deixar contagiar por aquele espírito inquieto e determinado, animando-a na sua jornada. No início, poucos a levavam a sério, depois a sua ação tornou-se num movimento que nunca mais parou, até alcançar os vários areópagos nacionais e internacionais. Nos tempos que correm, e pelo segundo ano consecutivo, não pudemos celebrar os avós. É mais um dano colateral da pandemia. Um triste dano que a todos atinge. Pela falta dos afetos, mas sobretudo pelo simbolismo que representa. O vírus que nos rouba as memórias do tempo em que vivemos rouba-nos também esses afetos, esses momentos mágicos, que são a essência da nossa condição de humanos. Ou seja, não estamos só afastados dos avós no dia dos avós, mas durante dias, semanas e meses a fio. Talvez anos. Ninguém sabe o preço que esse afastamento sanitário coercivo vai custar às novas gerações, sobretudo quando já não tiverem avós com quem gravar memórias e afetos. Mas será certamente um preço muito alto. E quantos deles partem tão desgostosos, com a distância do último abraço, do último beijo de um neto? Urge voltar ao convívio! Urge voltar ao tempo em que os avós abracem e beijem os netos e os netos os avós! Voltar aos afetos que dão todo o sentido à existência! Por tudo isso, hoje, mais do que nunca, se percebe que tinha a D. Ana Elisa do Couto, na sua luta, que ganhou antes de partir. E a Vós, Avós, fica a nossa imensa gratidão pelo papel tão importante na vida coletiva e de cada um de nós! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (30/07/2021) |
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