Terminou, finalmente, o longo período das exéquias de Isabel II, a monarca de Inglaterra, Reino Unido e da Commonwelth.
Tornou-se pacífico que a rainha do segundo mais longo reinado da História foi uma mulher que esteve à altura do cargo que lhe coube por nascimento. Serviu no exército em 1945, assistiu à reconstrução da Inglaterra e da Europa, à Guerra Fria e às mudanças sociais dos anos 60, e viu o seu império esvair-se, chegando ao final da vida como chefe de uma nação com sinais de crise e declínio. Os seus sucessos talvez se expliquem tanto por circunstâncias pessoais como fortuitas, como longo e feliz casamento, a longevidade e influência da rainha-mãe, e a sua especial e curiosa forma de lidar com circunstâncias adversas, como o caso das crises familiares (da princesa Diana, do príncipe André e da irmã Margarida), ou uma desconhecida e opaca opinião sobre o Brexit. As manifestações durante as suas exéquias demonstram que os ingleses apreciavam a sua rainha e também o seu regime monárquico, imutável, atávico e garante de alguma influência no mundo, nomeadamente do ligado à Commonwelth. Porém, tenho para mim que tudo isso, e muito mais que não cabe nas balizas deste pequeno artigo, não justifica a importância que os meios de comunicação deram a todos os pormenores destes doze dias de exéquias fúnebres. Mobilizaram-se dezenas de jornalistas para Inglaterra, nomeadamente os mais reputados pivôs das televisões, e dissecou-se ao pormenor cada momento, por mais irrelevante que fosse, do que por ali estava a acontecer. É certo que o momento é raro, mas trata-se da rainha de Inglaterra, e não do chefe de Estado português, ou de alguém que mudou o mundo. Tal como não se conhecessem que especiais atos tenha praticado para o fortalecimento da mais antiga aliança diplomática do mundo, onde quase sempre ficamos mais a perder do que a ganhar. Alguém que ocupou um cargo por nascimento, e não pelos méritos e créditos que adquiriu ao longo da vida, ou por livre escolha do povo. Por isso, o excesso de acompanhamento do evento, das questões certamente relevantes às mais ridículas, mais fazia parecer que se tratava da rainha do mundo, e que todos deveríamos sentir a perda, como nossa. Como se fosse uma grande perda da nossa Civilização. Para muitos, passou certamente ao lado uma efetiva grande perda da Civilização, falecido poucos dias antes da rainha. Alguém que, em poucos anos de governação, mudou radicalmente o mundo, no modo em que o conhecíamos: Mikhail Gorbatchov. Talvez o legado que este homem deixou à Humanidade tivesse merecido pelo menos uma centésima parte da atenção dada pelos media às notícias de Balmoral e de Londres. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (28/09/2022) |
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Agosto 2024
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