Conheço alguns cidadãos russos a viver em Portugal. São cidadãos como qualquer português, que vivem, trabalham ou estudam honradamente, procurando a sua realização pessoal e profissional no nosso país.
Gostam de Portugal e não renegam as suas origens. Mas isso não significa que aprovem o regime do seu país decidiu fazer com o povo ucraniano. Antes pelo contrário. Os que conheço repudiam, estão contra e até mesmo envergonhados com o holocausto que o presidente do seu país criou, com pretextos inconcebíveis, no estádio de evolução da nossa civilização. É certo que os russos que vivem cá têm acesso a informação diferente da que os meios de comunicação social dão na Rússia e podem exprimir-se em liberdade, sem receios de irem presos por delito de opinião. E que, na Rússia, não é assim: lá, o povo apenas vê e ouve o que a comunicação social manipulada lhes dá e está proibido de exprimir qualquer opinião contra a guerra e o massacre na Ucrânia. Por isso, na hora de julgarmos os russos, temos de saber relativizar. Nem todos são iguais, nem todos estão livres para exprimir opinião, nem todos têm acesso a informação que lhe permita sequer formar opinião. Isto para dizer que não se deve confundir o trigo com o joio. Só porque são russos, não devemos olhar com desconfiança aqueles que vivem em Portugal. Mormente os que estão contra o desatino do seu presidente. Antes pelo contrário, devemos ouvi-los, apoiá-los e respeitá-los como seres humanos. Afinal, os que escolheram o nosso país para viver, estudar e trabalhar segundo as nossas regras e leis, contribuem, como qualquer português, para o desenvolvimento do nosso país que, como sabemos, está em queda demográfica. Por outro lado, e do mesmo modo, não se pode banir – como se viu em alguns países – o acesso aos criadores e artistas russos já desparecidos, que deixaram importante legado para a Humanidade. Dostoiévsky, Tolstoi, Tchaikovsky e outros vultos, não têm culpa nenhuma que, entre os russos que lhe sucederam, tenha nascido um homem inqualificável. “Os Irmãos Karamazov”, “Guerra e Paz” ou “O Lago dos Cisnes” são património imaterial de todos nós que, só por terem sido criados por russos de outros tempos, não devem ser excluídos da fruição de quem os aprecie. Sob pena de nos tornarmos tão fanáticos e insanos como Putin. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (09/04/2022) A leste da Europa, os ucranianos lutam pela sua terra e pelo seu país. Alguns que vivem fora do país regressam a casa para essa luta. A questão é que as razões que levaram Putin a invadir a Ucrânia e, a seguir, sabe-se lá que outros países, são totalmente inaceitáveis no século XXI, no quadro civilizacional em que, a Ocidente, entendemos estar.
Por isso, a defesa heroica dos ucranianos não é só pela sua terra e pelo seu país. É muito mais do que isso. Tenho para mim que os ucranianos são a tropa de choque, a linha da frente, que luta por eles… mas igualmente por todos nós. Lutam e morrem também pela Europa Ocidental, pelos nossos valores, pelo nosso estilo de vida, pelas nossas conquistas civilizacionais, por tudo isto que é, afinal, o queremos legar aos nossos filhos, às próximas gerações. E que tanto nos custou a conquistar. É claro que não são todos os russos que defendem o seu tirano, por isso não se pode estigmatizar toda a sua população, sobretudo os que vivem em Portugal, que dele fugiram ou que estão contra as suas hediondas decisões. Por tudo isso, não posso deixar de me confessar perplexo por saber que existem ainda setores da sociedade portuguesa que estão a favor desta invasão, e da guerra, insensíveis ao massacre de populações inocentes e à tirania, tudo a coberto de uma capa gasta de luta pela liberdade. Porque, afinal, o mundo ideal que representam é o concebido pela mente de Putin e pelo Kremlin, que lhe obedece acriticamente. Não são verdadeiras as liberdades que nos libertem de uma tirania de direita e nos entreguem a uma tirania de esquerda, ou que nos libertem de uma tirania de esquerda para nos entregar a uma tirania de direita. Ou que nos deixem sujeitas aos caprichos de mentes egocêntricas e malformadas. Esta é uma lição sobre a qual os portugueses, mas sobretudo as novas gerações que procuram o seu posicionamento político, e por vezes se deixam iludir por certos encantos retóricos dos radicalismos dos extremos políticos, devem refletir profundamente. Hoje, os ucranianos defendem com o seu sangue valores comuns aos nossos, mas amanhã não saberemos quem mais o terá de fazer, se não tivermos uma sociedade convicta e bem formada sobre o que são os valores da democracia, da paz e da liberdade. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (12/03/2021) No lufa dos nossos dias, já a vermos o vírus do nosso descontentamento pelas costas, vamos desfrutando de uns amenos mas intermináveis dias e sol, em pleno inverno. Podemos desfrutar das esplanadas, ao mesmo tempo que assistimos a inimagináveis colunas de fogo e de fumo, na floresta. Nem sempre o sol é bem-vindo, sobretudo quando em causa está o nosso futuro coletivo.
A emergência hídrica – a par da emergência energética e da demográfica – esteve suspensa do debate nacional até se encerrar o capítulo eleitoral, no passado dia 30 de janeiro. A partir daí, à falta de outras notícias, a questão passou a ocupar o espaço mediático nas televisões nacionais, com sucessivas reportagens sobre os efeitos da seca na vida humana, na agricultura e nos ecossistemas do país. Estranhamente, com o sol baixo do inverno a ferir diariamente os olhos dos políticos durante a campanha, houve tempo para se falar dos fofinhos animais domésticos, mas pouco ou nenhum para sabermos mais sobre novas e urgentes políticas para combater esta grave questão ambiental. Ora, a escassez de água no mundo parece paradoxal, uma que vez que todos aprendemos que a maior parte do planeta – 75% – é constituída de água. Porém, mais de 97% dessa água não pode ser consumida e nem utilizada no nosso quotidiano porque é salgada. Da água doce que sobra, grande parte está congelada e outra no subsolo. Apenas 1% deverá existir nos reservatórios e nas redes de distribuição. Mas pouco resta para consumo próprio, uma vez que vai para a produção agrícola e industrial. Para não falar da que acaba por ser contaminada no subsolo. E, em Portugal, poucos ainda se preocupam a sério com esta temática. Sobretudo a classe política, a quem se exige análise crítica e profunda sobre o assunto, debate sério e medidas de curto, médio e longo prazo. Claro está que o tema entronca no problema do aquecimento global e nos caprichos de uma natureza zangada pelos sucessivos comportamentos humanos. Mas isso não perdoa nem desculpa que, em vez de jogos florais e de retórica política, os nossos responsáveis não assumam como urgência nacional a formação de políticas focadas e preocupadas com a emergência hídrica (concertada com a energética e demográfica). É das questões que verdadeiramente importam. E com uma nova maioria qualificada em Portugal, não se aceitam adiamentos ou assobios para o ar. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (12/02/2022) Quando começa um novo ano, todos fazemos votos de que seja melhor do que ao anterior. Normalmente, existem dados já conhecidos que nos permitem guiar esses desejos e expectativas.
Porém, este 2022 começa com o misto de incertezas por todos os lados, que não nos dão uma bússola segura para nos guiar no desconhecido. Ao nível global, duas incógnitas ainda sem norte à vista: a primeira, de curto prazo, é a absoluta imprevisão dos efeitos da pandemia. De um dia para o outro, a certeza de ontem já não é a de hoje, muito menos a de amanhã. Ficamos à deriva com as novas variantes, sem perceber até onde as vacinas nos imunizam (embora ainda protejam na severidade da doença) e quando tudo isto acabará. Por outro lado, assistimos a um imparável crescimento do da temperatura no planeta, tendo a OMM anunciado que os últimos 7 anos foram os 7 anos mais quentes da história. Enquanto isso, os governos mais poderosos assobiam para o lado e continuam focados em como dominar os outros e prepararem-se para guerras (crise da Ucrânia, de Taiwan, etc.) Ao nível nacional, mergulhamos num enorme ponto de interrogação sobre o futuro político do país. Em 47 anos de democracia, foi a segunda vez que um Orçamento de Estado chumbou no Parlamento, mas a primeira em que a rejeição provocou a dissolução da Assembleia da República. E, tirando o facto de vivermos em duodécimos, ninguém está em condições de assegurar o que irá acontecer a partir de 30 de janeiro: um governo maioritário, governo minoritário com apoios à esquerda, à direita ou ao centro, um governo minoritário sem esses apoios, ou uma iminente nova crise política por falta de entendimentos. Na economia, o ambiente é igualmente perplexo: por um lado, faz-se fé no crescimento económico para os níveis pré-pandemia ou superiores, por outro, a um assustador crescimento do preço das matérias-primas, dos combustíveis, do nível e vida em geral e dos produtos de primeira necessidade, cujo crescimento económico e salarial médio não acompanha. Diz quem sabe, que a casos com este segue-se uma nova crise, de feitos imprevisíveis e que, assim sendo, ela aparecerá em 2024. Enquanto cidadãos, resta-nos, porém, fazer o que está ao nosso alcance: nas escolhas políticas que fazemos, no estilo de vida que levamos, nos cuidados sanitários que adotamos, nos investimentos que fazemos e na voz que nunca poderemos cansar de erguer em favor de uma sociedade política, económica, climática e sanitariamente mais forte e mais justa. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (15/01/2022) Os últimos anos trouxeram-nos novos hábitos, quanto à ocupação do tempo. As empresas da tecnologia jogaram forte no entretenimento. São os jogos dos smartphones, as séries da Netflix e de outras plataformas de streaming, as redes sociais, as aplicações de comunicação e mesmo a navegação aleatória ou recreativa na internet.
Como isso, julgo que se vão perdendo hábitos de leitura dos livros, sobretudo dos livros físicos. Dos que contam histórias e nos estimulam a mente. Como se sabe, as referidas tecnologias usam técnicas subversivas de viciação, através de estímulos psicológicos ao consumo rápido, a que nem as séries escapam. Tudo é criteriosamente montado para que o consumidor fique preso a écrans, seja de telemóveis, tablets ou aparelhos de televisão. A questão que se coloca é, assim, a de saber que tipo de transformações isso pode trazer aos humanos. Não sou especialista na matéria, mas tenho boas razões para suspeitar que a literatura acrescenta um valor inestimável à condição humana, permitindo aos autores criarem novas atmosferas, novas realidades, que são entretecidas por construções gramaticais que enriquecem a língua, e cujas vozes arquitetam os seus universos narrativos. Da parte dos leitores, a riqueza da literatura advém da possibilidade de gerar abstração, tempo suficiente para a reflexão, permitindo a formação de um pensamento crítico mais elaborado e fundamental à autodeterminação e à liberdade do ser humano. A sujeição massiva e aditiva a produtos tecnológicos estandardizados ou sujeitos ao impulso do momento fazem uma sociedade mais padronizada, mais permeável ao consumismo acrítico e mesmo a políticas e políticos demagógicos e populistas. O problema tende a tornar-se mais agudo nas novas gerações, que já nascem e crescem neste novo paradigma. É assim importante que os sistemas educativos das democracias promovam a literacia literária, que cada família não a esqueça na formação das suas crianças, e que cada um encontre a dose certa no consumo das várias ofertas de entretenimento. E que rejeite ser apenas mais uma ovelha no rebanho. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (19/12/2021) O direito ao desligamento é algo que está cada mais na ordem do dia, sobretudo quando chegou a era do teletrabalho.
Uma vida saudável deve permitir que todos trabalhadores, profissionais liberais e mesmo chefias de topo e gestores, deixem para trás essa ideia socialmente bem vista de que, quem está sempre ligado ao trabalho, é mais capaz e tem mais sucesso. Pode até ter, mas só no curto prazo, antes de descobrir que se tornou num escravo de si mesmo, ou dos outros. É certo que a legislação (artigo 169.º do Código do Trabalho) prevê limites do período normal de trabalho à distância em condições similares ao do trabalho presencial. Mas tantas vezes que isso não acontece. Por causa de imposições ou objetivos impostos aos trabalhadores no caso do trabalho subordinado, por causa das consultas telefónicas, emails e reuniões fora de horas com clientes no caso de profissionais liberais, ou mesmo quando alguém se tornou, por imposição ou dependência, num workaholic. A legislação que, na minha opinião, não deve ser de fação ou ideológica, deve garantir o equilíbrio necessário na garantia desse direito, sem entrar em radicalismos como os que por aí se apregoam, de punir uma qualquer entidade patronal por contactar um trabalhador fora do horário de trabalho. Sim, se for um abuso, uma recorrência; não se for uma necessidade, uma exceção. É claro que uma boa educação cívica, nomeadamente na escola, ajudará a que, no futuro, tenhamos cidadãos – trabalhadores e empregadores – com maior consciência crítica, capazes de saber alcançar uma desejável autorregulação neste tema. Pois, na busca da realização pessoal, há que ter tempo para nós próprios, para a família e os amigos, para o desporto, hobbies e viagens, para a leitura (saudável hábito em extinção), para o nosso despertar e crescimento interior, ao nível espiritual e do conhecimento. O trabalho não pode dar o pão com uma mão e, com a outra, tirar a emoção e viver. No meio, julgo, estará a virtude. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (19/11/2021) Este outono está marcado pelas eleições autárquicas em todo o país. Nos 308 concelhos do continente e das ilhas, os portugueses são chamados a eleger aqueles que cuidarão de governar os nossos municípios e freguesias. E também os que vão exercer o direito democrático de oposição. Uns renovarão os seus mandatos, outros chegarão pela primeira vez.
Tudo isto é do conhecimento geral, sendo a regra que cada denominado “ciclo autárquico” se conclua e se renove ao fim de cada período de 4 anos. Assim, quer candidatos quer eleitores tendem a deter a sua atenção nos compromissos imediatos, avaliando os que foram ou não cumpridos no quadriénio anterior, e, claro, os novos, os que surgem nos manifestos eleitorais para o quadriénio que se segue. Todavia, tenho para mim que os políticos mais competentes, aqueles que realmente deixam uma marca indelével na sua passagem pela missão pública e são recordados na posteridade, são os que conseguem ver para além dos quatro anos seguintes. Os que projetam os territórios, em obras materiais mas sobretudo imateriais, para um futuro bem mais distante, para as próximas gerações. Deste modo, faço votos para que candidatos e eleitos sejam capazes integrar nos seus programas e na sua execução políticas concretas de elevado impacto geracional. Seja ao nível da transição energética e digital, ou que tornem os territórios mais criativos e ambientalmente sustentáveis, ou capazes de contribuírem para a fixação de jovens e para a atração de novos residentes, com empregos mais qualificados e com mais elevados padrões de remuneração, qualidade de vida e forte coesão e inclusão social. Com sábio e humanizado aproveitamento da inteligência artificial. Mas também potenciadores de equilíbrio entre a igualdade e o mérito nas oportunidades, que se mostrem culturalmente vibrantes e desafiantes e competentes no domínio da educação. É o que desejo para este novo ciclo autárquico, no nosso país. Mas igualmente, e sobretudo, no meu concelho de Penafiel. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (24/09/2021) No meio do mês das férias, tomamos conhecimento que a máscara finalmente vai cair. Será em meados de setembro que deixaremos de ser obrigados a passear no espaço público com este recente adereço na nossa indumentária.
Na verdade, andando por aí, vê-se que os portugueses rapidamente se adaptaram à dita, como se fosse a uma nova moda, e foram cumprindo, nos últimos tempos, com esta regra sanitária. Algo que não se viu noutros países do centro da Europa. Por isso, não deixará de ser curioso verificar como se fará o desapego ou desligamento desse hábito. Se manteremos a rotina de pegar na máscara de manhã, por ato mecânico ou por o medo de contaminação se ter instalado no subconsciente coletivo. Até porque as notícias sobre as capacidades de infeção da variante delta do vírus não são animadoras por aí além, e ninguém foi capaz de demonstrar ainda ser possível atingir-se uma efetiva e desejada imunidade de grupo. Mas, no meu ver, a queda da máscara é um bom sinal. Com as distâncias devidas, é certo, mas simbólico como a queda do Muro de Berlim. É que, atrás da máscara esconde-se um tempo impensável em que vimos coartadas as nossas liberdades individuais: a liberdade de reunião; a liberdade de utilização do espaço público; a liberdade de comer onde se quer; de se estar com quem se quer. Mas também a liberdade de mostrarmos os afetos, através de beijos, sorrisos e abraços, de estarmos com os nossos entes mais queridos, em especial com os mais velhos. De viajarmos. Em suma, de celebramos todos os dias o dom da vida. Por isso: que caia a máscara! Mas que atrás da máscara que cai, regressem os abraços. Mas de vez. Bem sei que o regresso dos abraços não se decreta por lei. Há ainda que aguardar que a ciência nos continue a surpreender, encontrando soluções que mais rapidamente sustenham as constantes mutações do vírus. Mas podermos voltar a circular sem máscara, não deixa de ser um enorme ato simbólico do regresso da esperança em voltarmos a ser livres. De voltarmos ao tempo em que éramos felizes sem saber. Que ela caia! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (28/08/2021) No passado dia 26 de julho, celebrou-se o Dia dos Avós. Desta vez, infelizmente sem festa e sem os afetos experimentados no convívio dos milhares de avós, filhos e netos, como acontecia no Parque da Cidade de Penafiel.
Hoje, o dia dos avós celebra-se em Portugal e em outros países, mas poucos saberão por esse mundo fora que a ideia nasceu em Penafiel, no final do século passado, brotando do fervoroso coração da D. Ana Elisa do Couto, carinhosa avó da nossa terra. Na minha missão pública, tive a oportunidade de reunir e encontrar tantas vezes com a D. Ana Elisa e de me deixar contagiar por aquele espírito inquieto e determinado, animando-a na sua jornada. No início, poucos a levavam a sério, depois a sua ação tornou-se num movimento que nunca mais parou, até alcançar os vários areópagos nacionais e internacionais. Nos tempos que correm, e pelo segundo ano consecutivo, não pudemos celebrar os avós. É mais um dano colateral da pandemia. Um triste dano que a todos atinge. Pela falta dos afetos, mas sobretudo pelo simbolismo que representa. O vírus que nos rouba as memórias do tempo em que vivemos rouba-nos também esses afetos, esses momentos mágicos, que são a essência da nossa condição de humanos. Ou seja, não estamos só afastados dos avós no dia dos avós, mas durante dias, semanas e meses a fio. Talvez anos. Ninguém sabe o preço que esse afastamento sanitário coercivo vai custar às novas gerações, sobretudo quando já não tiverem avós com quem gravar memórias e afetos. Mas será certamente um preço muito alto. E quantos deles partem tão desgostosos, com a distância do último abraço, do último beijo de um neto? Urge voltar ao convívio! Urge voltar ao tempo em que os avós abracem e beijem os netos e os netos os avós! Voltar aos afetos que dão todo o sentido à existência! Por tudo isso, hoje, mais do que nunca, se percebe que tinha a D. Ana Elisa do Couto, na sua luta, que ganhou antes de partir. E a Vós, Avós, fica a nossa imensa gratidão pelo papel tão importante na vida coletiva e de cada um de nós! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (30/07/2021) A 40.ª Conferência Geral da Unesco, em novembro de 2019, institui algo que poucos conhecem: o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Passou a comemorar-se a 5 de maio.
E vale a pena recordar que a nossa língua é a quarta mais falada no mundo, com cerca de 260 milhões de falantes. É idioma oficial de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. E também uma das línguas oficiais de Macau e Guiné Equatorial. Existem importantes comunidades falantes do português na América do Norte e outras partes do mundo, estimando as Nações Unidas que, em 2050, 387 milhões de pessoas falem português. É ainda de referir que, embora na Europa apenas cerca de 3% da população fala a nossa língua, o português é, por outro lado, a 3.ª língua oficial da UE mais falada no mundo. Por isso, nunca é demais acentuar a sua importância, mas sobretudo recordar o seu berço. O português é uma língua que deriva do romanço galaico-português, que nasceu neste Norte, entre o Douro e o Minho. Falavam-no o povo do Portugal primordial, mas igualmente os senhores que, na zona do Vale do Sousa e adjacentes, ajudaram Afonso Henriques a ser rei e a tornar o território independente. Nessa época, esse idioma, ainda arcaico, acompanhou os senhores, guerreiros e povoadores deste rincão nortenho, na denominada “Reconquista”, que o levaram até aos confins do Algarve. E mais tarde, através dos “Descobrimentos”, transportaram-no, já mais evoluído, em naus e caravelas, até ao resto do mundo, onde hoje floresce e é o instrumento de comunicação de tantos milhões de pessoas. Recordar que a nossa terra integrou o pequeno berço da língua portuguesa é algo que nos deve orgulhar e mobilizar, para que saibamos usá-la como instrumento de interpretação do mundo que nos rodeia, de desenvolvimento do senso crítico, da criatividade, dos negócios, enfim, da nossa auto estima individual e coletiva. Com esse sentido de pertença, Penafiel homenageia-a todos os anos, na Escritaria. A cada um de nós, cabe-nos homenageá-la todos os dias. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (05/07/2021) |
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