ALBERTO S. SANTOS
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O sorriso do Custódio

1/7/2023

 
Na edição de 23 de abril de 2014, este jornal “O Imediato” dava uma triste notícia, com o título “Homem colhido mortalmente na EN 15”.
 
A notícia vinha acompanhada de uma foto, a da vítima. Era o Custódio Luís Pereira.
 
Foi, assim, que tomei notícia da morte de um rapaz especial, que se tornou homem, e que tocava o coração de quem o conhecia.
 
O Custódio nasceu especial, com algum atraso nas suas faculdades mentais. Mas esse atraso nunca lhe toldou outras faculdades: a de sorrir e fazer sorrir; a de encontrar alegria nas coisas simples; a de contagiar a alma dos amigos com a sua pureza, quase inocência.
 
No meu escritório de advocacia, então na Avenida Sacadura Cabral, em Penafiel, ele era presença assídua. Nunca a pedir dinheiro, mas sim algo com que se entreter. Umas capas, umas revistas, o que houvesse. E lá ia ele, feliz. Feliz, com tão pouco. E o meu dia ficava ainda mais feliz. Porque me fazia sorrir.
 
Mais tarde, já na missão pública, o Custódio também me procurava e saudava com aquele sorriso desconcertante e olhar luminoso.
 
Mas, naquele fatídico dia 22 de setembro de 2014, o Custódio foi colhido por uma viatura, na EN 15, e entrar em Croca, a sua terra quando regressava de uma das suas milhares e diárias caminhadas, entre Penafiel e a sua casa.
 
Nessa ocasião, a EN 15 encontrava-se em obras e a falta de condições para a circulação dos peões era o perigo que todos os dias o espreitava. E quiseram fazer crer que a culpa era sua. Das suas faculdades mentais. Mas o Custódio sabia, pelas incontáveis viagens solitárias e a pé que fez ao longo da sua vida, que o perigo era para evitar. Mesmo quando tivesse de circular pela berma contrária, por falta de berma no sentido do seu caminho, como era o caso.
 
Quando soube da triste notícia, senti a presença intensa daquele sorriso desconcertante do Custódio. Como se ele me interpelasse para algo. Só algum tempo mais tarde percebi o que ele me pedia. Não eram revistas ou capas, mas sim que se lhe fizesse justiça. Porque ninguém assumiu a culpa pela sua morte. Foi vítima do seu atraso mental, defendiam-se os responsáveis.
 
Há duas semanas, ao final de tantos anos, de muitas batalhas e de um julgamento em plena pandemia, chegou finalmente a sentença. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Penafiel fazia a justiça que o Custódio pedia. A sua mãe, já velhinha, ficou finalmente em paz. E ele, onde estiver, talvez continue a sorrir.
 
Obrigado Custódio por continuares a fazer-nos sorrir!
 
 
Alberto S. Santos
 
Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (01/07/2023)

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