Na política, nem sempre o que parece previsível acontece.
Na maior democracia do mundo, vivia-se algo inimaginável: dois concorrentes a disputar o lugar provavelmente o homem mais poderoso do mundo (presidente dos EUA) ambos com as provectas idades de 81 e 78 anos. E pela fadiga física e mental de um (o atual) tudo levava a crer que o outro – com a experiência de outros combates, com a sorte de ter evitado a morte por um tiro (invocando a intervenção divina) e pela narrativa negacionista da sua derrota anterior nas urnas – facilmente chegaria à vitória. Até porque o atual presidente já tinha vencido as primárias do seu partido (Democrata) por larga maioria, estando prestes a ser indigitado, e porque as sondagens evidenciavam o alargamento da distância das intenções de voto a favor do republicano. Todos sabemos que as eleições americanas são decididas pelos eleitores de cada um dos seus estados, mas o seu impacto tem repercussão no mundo inteiro: na política da NATO, no curso das guerras, no maior ou menor apoio às democracias liberais, na maior ou menor inspiração para regimes mais democráticos ou mais ditatoriais, etc, etc. Ora, desde que intransigente recusa de Biden em abandonar a luta eleitoral se transmutou num ato lúcido da sua desistência, o mundo viu em direto como o que era ontem deixou de ser amanhã. De repente, uma pouco conhecida e escondida Vice-Presidente, Kamala Harris, apareceu no centro do palco, ergueu a sua voz e transformou-se numa líder incontestada daqueles que já atiravam a toalha ao chão. Uma mulher, de pele não ariana, quase invisível no mundo até ao momento, mas empoderada e desempoeirada, assumiu as rédeas da campanha e começou a discutir taco a taco as eleições com aquele que já se anunciava como vencedor antecipado. E que não parava de desmerecer e escarnecer do seu anterior adversário. Esse talvez tenho sido o seu erro. Tanto o fez que venceu esse adversário antes do dia das eleições, mas vê agora pela frente alguém que, a bem do nosso futuro coletivo, lhe poderá ganhar a eleição. Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (11/08/2024) |
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August 2024
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