Há dias tomei uma decisão que não estava nas minhas cogitações, até há algum tempo: candidatar-me de novo a um cargo político, no meu partido, na minha terra, Penafiel.
Na verdade, mesmo que a alguns pareça estranho, a maior parte da minha vida foi feita na vida privada, e assim segue, como advogado. Sem depender da política, dos cargos ou de clientes públicos. Só somos livres quando podemos fazer as nossas escolhas de modo descomprometido, independente, sem nos submetermos a nada nem a ninguém. Apenas à nossa consciência. Por isso, aceitei este novo desafio, com essa plena consciência. A de ser livre para escolher estar ou não estar. E decidi estar. Porque como um dia escreveu William James, Quando alguém precisa de tomar uma decisão e não a toma, está a tomar a decisão de não fazer nada. E eu não quis optar por não fazer nada face à encruzilhada em que vive o PSD e a Coligação Penafiel Quer, com o fecho do ciclo autárquico em 2025, quando o atual Presidente da Câmara já não poderá recandidatar-se. A minha decisão foi assim tomada em consciência, depois de analisar a situação política e de ouvir muitos militantes, os responsáveis políticos locais, distritais e naturalmente os nacionais. E de gravar no espírito aquilo que me transmitiram de viva voz. Mas sobretudo, depois de ter ouvido os penafidelenses no dia-a-dia, em tantas circunstâncias em que nos encontramos. Também mantenho gravado no espírito aquilo que eles me transmitiram de olhos nos olhos, quer quanto ao partido, quer quanto ao que esperam para protagonizar o novo ciclo autárquico. Cabe agora aos militantes do PSD escolherem, no reduto da sua consciência, livremente e sem pressões, o caminho que querem seguir para o futuro. Da minha parte, serei sempre o mesmo, independentemente de resultados conjunturais. Sempre livre, mas focado determinado nos projetos que assumo, sobretudo quando acredito plenamente na sua capacidade transformadora para a sociedade. E quando vejo ao meu lado gente anónima e conhecida de qualidade inigualável. Porque sozinhos não somos nada. E porque sei que, no fim de contas, quem decide o que quer para a comunidade, como já escrevi, é inexoravelmente o povo. Sempre o povo! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (29/07/2023) Na edição de 23 de abril de 2014, este jornal “O Imediato” dava uma triste notícia, com o título “Homem colhido mortalmente na EN 15”.
A notícia vinha acompanhada de uma foto, a da vítima. Era o Custódio Luís Pereira. Foi, assim, que tomei notícia da morte de um rapaz especial, que se tornou homem, e que tocava o coração de quem o conhecia. O Custódio nasceu especial, com algum atraso nas suas faculdades mentais. Mas esse atraso nunca lhe toldou outras faculdades: a de sorrir e fazer sorrir; a de encontrar alegria nas coisas simples; a de contagiar a alma dos amigos com a sua pureza, quase inocência. No meu escritório de advocacia, então na Avenida Sacadura Cabral, em Penafiel, ele era presença assídua. Nunca a pedir dinheiro, mas sim algo com que se entreter. Umas capas, umas revistas, o que houvesse. E lá ia ele, feliz. Feliz, com tão pouco. E o meu dia ficava ainda mais feliz. Porque me fazia sorrir. Mais tarde, já na missão pública, o Custódio também me procurava e saudava com aquele sorriso desconcertante e olhar luminoso. Mas, naquele fatídico dia 22 de setembro de 2014, o Custódio foi colhido por uma viatura, na EN 15, e entrar em Croca, a sua terra quando regressava de uma das suas milhares e diárias caminhadas, entre Penafiel e a sua casa. Nessa ocasião, a EN 15 encontrava-se em obras e a falta de condições para a circulação dos peões era o perigo que todos os dias o espreitava. E quiseram fazer crer que a culpa era sua. Das suas faculdades mentais. Mas o Custódio sabia, pelas incontáveis viagens solitárias e a pé que fez ao longo da sua vida, que o perigo era para evitar. Mesmo quando tivesse de circular pela berma contrária, por falta de berma no sentido do seu caminho, como era o caso. Quando soube da triste notícia, senti a presença intensa daquele sorriso desconcertante do Custódio. Como se ele me interpelasse para algo. Só algum tempo mais tarde percebi o que ele me pedia. Não eram revistas ou capas, mas sim que se lhe fizesse justiça. Porque ninguém assumiu a culpa pela sua morte. Foi vítima do seu atraso mental, defendiam-se os responsáveis. Há duas semanas, ao final de tantos anos, de muitas batalhas e de um julgamento em plena pandemia, chegou finalmente a sentença. O Tribunal Administrativo e Fiscal de Penafiel fazia a justiça que o Custódio pedia. A sua mãe, já velhinha, ficou finalmente em paz. E ele, onde estiver, talvez continue a sorrir. Obrigado Custódio por continuares a fazer-nos sorrir! Alberto S. Santos Artigo de opinião publicado no IMEDIATO (01/07/2023) |
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